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Meus pais morreram por problemas no coração: isto pode acontecer comigo?

Meus pais morreram por problemas no coração: isto pode acontecer comigo?
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel - Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Nós não escolhemos nossos pais, avós, irmãos e tios. Simplesmente nascemos e, após alguns anos de maturidade física e mental, começamos a compreender quem é quem em nossa estrutura familiar. Caso tivéssemos a capacidade de escolher como seriam nossos familiares, buscaríamos as escolhas “mais perfeitas “, principalmente no tocante a maior ou menor propensão para desenvolver algumas doenças cardiovasculares. No entanto, obviamente as coisas não acontecem desta forma nem de acordo com nossa vontade.

Mais do que tudo, devemos ter mente que somos um ser quase perfeito com diversas questões genéticas incompletas. Explicando melhor este contraponto: o ser humano aproxima-se da perfeição, mais do que qualquer outro ser vivo, porque seu corpo é dotado de incontáveis habilidades metabólicas, capacidade intelectual incomparável e senso crítico ímpar acerca do que seria correto ou incorreto. A natureza acentua isto nitidamente em situações muito simples: uma pessoa oferece um determinado alimento para um animal e este simplesmente devora este conteúdo. Este animal muitas vezes não tem a mesma capacidade metabólica para processar o alimento e também não tem condições cognitivas para julgar se o alimento é saudável ou não.

Ainda que o ser humano seja a figura mais próxima da perfeição, a “fabricação” de nosso corpo vem com defeitos, com falhas permanentes e que irão determinar muitas tendências em nossa vida. Dessa forma, quando notamos que muitas pessoas da mesma família - pais, avós e tios - são obesos e apresentam um determinado padrão físico, podemos predizer que os filhos destas pessoas serão consideravelmente, propensas a também conviver com a obesidade.

Estou, portanto, afirmando e garantindo que estes filhos destas pessoas citadas serão pessoas obesas? A resposta é negativa, visto que as tendências, inclusive as tendências mais fortes, não são certezas absolutas.

Nesta linha de discussão, nossos hábitos de vida exercem influência marcante na manifestação de nossas tendências familiares. Uma pessoa que seja filha de um casal de pessoas obesas e diabéticas poderá, por meio de um controle alimentar adequado e prática regular de atividade física, manter seu peso dentro dos níveis apropriados e não desenvolver diabetes ao longo da vida. Mas então esta pessoa não herdou dos pais a tendência para obesidade e diabetes? Ela herdou sim, em algum grau ela herdou, mas ela soube atenuar esta propensão por meio de hábitos saudáveis.

Quando analisamos condições importantes referentes a saúde cardiovascular, como a hipertensão arterial, o infarto do coração e as arritmias, notamos que os antecedentes familiares pertinentes aos parentes de primeiro grau impactam verdadeiramente a nossa história natural de vida. E notamos, também, que adotar hábitos saudáveis ao longo da vida pode mudar o curso natural das tendências que herdamos.

A hipertensão arterial é uma condição extremamente ligada aos fatores genéticos. Muito comumente observamos quase que famílias inteiras precisando de medicamentos para tratamento da hipertensão arterial. Claro que existem algumas questões associadas a hipertensão arterial, questões estas que também podem transmitidas de pais ou avós para os filhos, como a tendência para obesidade e tendência para retenção de líquidos no corpo. Assim, pode-se salientar que a transmissão genética da tendência para hipertensão arterial já é por si só significativa e pode ser agravada pela transmissão de outras tendências como a obesidade e retenção de líquidos corpóreos. Diante de todo o impacto dos fatores genéticos na manifestação de níveis elevados de pressão, não deveríamos manter hábitos de vida como ingestão exagerada de alimentos gordurosos, salgados, doces e condimentados, ingestão exagerada de bebidas alcoólicas, além do consumo desordenado de bebidas estimulantes como café e energéticos. 

Quando muitos membros de uma família morrem em decorrência de um infarto do coração, as medidas preventivas tornam-se prioritárias na vida destas pessoas. Não significa que todos irão infartar em algum momento, não se pode sentenciar isto. No entanto, caso haja descuido e negligência no tocante aos hábitos de vida, certamente o risco de desenvolver um infarto se agiganta, trazendo consigo complicações como a insuficiência cardíaca ou até a morte.

Outras condições cardiovasculares muito comuns que atingem milhares de pessoas, tendo como base uma possível transmissão genética, são as arritmias cardíacas. O ritmo cardíaco pode se tornar desordenado em decorrência de uma série de fatores como alimentação, hormônios, estresse e medicamentos. Todos estes fatores podem se somar a tendência herdada dos pais e avós para desenvolver arritmias. Existem arritmias que incomodam pouco e são mais facilmente controladas e aquelas que requerem procedimentos invasivos para eliminar os focos intracardíacos. Seja como for, as pessoas cujos pais e avós apresentam um histórico consistente de arritmias cardíacas, devem evitar abusos na alimentação, não praticar atividade física sem orientação médica e também procurar controlar o nível de estresse. Enfim, devemos entender que todos nós herdamos tendências de nossos pais, avós e tios. Mas não necessariamente iremos desenvolvê-las. Dependerá essencialmente de nossas escolhas e nossos hábitos. Claro que não há como controlar absolutamente tudo que está em nosso material genético oriundo dos nossos pais, mas podemos de alguma forma intervir positivamente, evitando as práticas erradas, seguindo corretamente as orientações médicas, priorizando a prática de atividades físicas e buscando o equilíbrio mental ao longo de nossa rotina.

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Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel 

Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Professor Livre–Docente

CRM 105226

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