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Sangue ‘‘grosso’’ é perigoso e pode matar

Sangue ‘‘grosso’’ é perigoso e pode matar
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel - Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Acredito que todos já tenham ouvido falar sobre uma determinada pessoa que está doente porque seu sangue está “grosso”. Ou que uma pessoa faleceu porque seu sangue “empedrou “.

Mas, afinal, o que seria sangue “grosso“ e por que este fenômeno acontece?  Temos de ressaltar, primeiramente, que nosso sangue é composto de uma porção líquida chamada plasma e uma porção viscosa, que são os glóbulos vermelhos e brancos. Existe um equilíbrio quantitativo entre o plasma e os glóbulos, permitindo que o sangue possa fluir rapidamente dentro dos vasos sanguíneos. Claro que, além deste escoamento facilitado, existe um mecanismo propulsor gerado pelas contrações do coração.

Seria prudente entender que não adiantaria termos um coração funcionando bem, sem um escoamento fácil do sangue dentro das veias e artérias. Da mesma forma, não adiantaria termos um equilíbrio entre as partes líquida e viscosa do sangue, com um coração funcionando de forma precária, sem a devida força de contração.

O fluxo sanguíneo esperado dentro de veias e artérias é conhecido como um fluxo laminar, ou seja, um fluxo sem agitação e turbulência, um fluxo contínuo e efetivo, capaz de conduzir oxigênio e nutrientes para todos os órgãos.

No entanto, existem muitas situações que podem tornar este fluxo mais turbulento e lento, favorecendo o engrossamento do sangue. Esta mudança do padrão de fluxo é uma condição patológica presente no câncer, na insuficiência cardíaca e na infecção por COVID-19.

Todos nós precisamos conhecer, compreender sobre e saber como prevenir a formação deste sangue “grosso” em nossas veias e artérias. Alguns fatores causais são muito simples e rotineiros e, ainda assim, desconhecemos ou subestimamos até o momento crucial de uma fatalidade, como uma embolia pulmonar.

Desta forma, as principais circunstâncias que pioram nosso fluxo sanguíneo seriam:

1) Sedentarismo

Antes da pandemia, nossas justificativas para não fazer atividade física eram o frio, o calor, a dor de cabeça, a chuva e tantas outras fantasias de nossa mente. A partir da pandemia, temos medo de aglomerar, medo de tudo que nos cerca e necessidade de trabalhar em home office. E, assim, de forma progressiva, ficamos parados e sem estimular nossa circulação sanguínea.

2) Obesidade

Quanto maior nossa massa de gordura corporal, maior o trabalho do coração em tentar bombear o sangue para todos os órgãos. Esta sobrecarga cardíaca já seria um dos mecanismos que desregulam nosso fluxo sanguíneo. Não bastasse isto, sabemos que o fluxo sanguíneo tende a ser mais turbulento nas pessoas obesas, com maior propensão para formação de trombos.

3) Uso inadvertido de hormônios

Num mundo totalmente focado na aparência e no status de beleza, frequentemente nos deparamos com pessoas que utilizam hormônios sem nenhum tipo de orientação especializada. Os hormônios promovem maior hipertrofia, podem melhorar a disposição física e mental, mas também podem induzir a formação de trombos em nossa circulação.

4) Uso de roupas muito apertadas

Qualquer tipo de compressão externa, sobretudo nos membros inferiores, pode represar o sangue em um determinado segmento e causar o turbilhonamento da circulação. Nota-se que as mulheres estão mais suscetíveis a esta complicação, pelo fato de usarem roupas mais justas e mais compressivas.

5) Câncer

Mesmo que o câncer esteja localizado em um determinado órgão, existe a liberação constante de toxinas e produtos inflamatórios em toda nossa circulação. Consequentemente, pode ser diagnosticado o câncer em um certo órgão e, como um fenômeno paralelo, também ser diagnosticada uma trombose de membros inferiores ou superiores. Esta trombose foi induzida pelos produtos inflamatórios que o câncer liberou em nossa circulação.

6) Insuficiência cardíaca

Qualquer situação que limite as contrações do coração, causando maior tempo de represamento do sangue dentro das cavidades cardíacas, será responsável pela formação de trombos que poderão ficar alojados no interior do coração ou serem remetidos para outras estruturas como o cérebro, causando um derrame cerebral. Todas as vezes que um trombo for diagnosticado dentro do coração, precisamos redobrar atenção e iniciar tratamento com anticoagulantes.

7) Trauma externo ou ferimento

Acidentes domésticos ou acidentes automobilísticos podem desencadear fraturas ósseas, lesões de partes moles e maior represamento do sangue em determinado compartimento do corpo. Assim, nota-se que estas pessoas podem ter muitas complicações sérias, como a ocorrência de tromboses nas veias ou artérias.

8) Infecção pela COVID-19

Tendo em vista que uma infecção pelo coronavírus causa uma tempestade inflamatória, a qual representa um enorme contingente de produtos tóxicos em nossa circulação, existe um risco acentuado para o engrossamento do sangue em alguns territórios do corpo, como pulmões e cérebro, e a consequente formação de tromboses.

9) Viagens e cirurgias muito prolongadas

Em viagens de avião muito longas, a tendência é passarmos a maior parte do tempo na posição sentada. Isto tem um efeito indesejável que é o inchaço das pernas, não estando descartado o risco de formação de trombos também. Nestes casos, tentar caminhar dentro da aeronave e fazer exercícios de alongamento podem minimizar este risco. No caso de cirurgias muito prolongadas, vale o mesmo cuidado, só que, como a pessoa estará anestesiada, o uso de medicamentos anticoagulantes e o uso de meia elástica seriam medidas interessantes e preventivas.

10) Desidratação

Pessoas que ingerem menos de 1 litro de água por dia, ao longo de muitos meses, estão mais sujeitas a um engrossamento do sangue e, como consequência, convivem com risco elevado para trombose. Existem casos de pessoas que podem estar mais expostas a um infarto do coração, pelo simples fato de beberem pouca água. Em época de frio, quando já existe uma tendência maior para infarto do coração, as pessoas costumar ingerir pouca água devido a uma menor sensação de sede. Isto é um perigo plausível, sendo necessário estar atento para não permitir que um estado de desidratação ocasione tromboses pelo corpo.

Jamais devemos subestimar alguns princípios da sabedoria popular, pois cientificamente temos comprovações reais de conceitos muito antigos, que pareciam ser apenas empíricos. Sangue “grosso” causando doenças graves, complicações importantes e risco elevado para a morte é indubitavelmente um dito popular que está cada mais vívido nos dias atuais. Sua importância está tão clara em situações do cotidiano que não podemos admitir mais qualquer tipo de recusa ou negacionismo. 

Precisamos tomar cuidado com qualquer circunstância que aumente o risco do sangue circular com lentidão e com turbulências. Os fenômenos trombóticos decorrentes deste fluxo alterado podem ser silenciosos e a primeira manifestação poderá ser um evento fatal. Devemos obrigatoriamente rever nosso estilo de vida, priorizando atividades que aumentem nosso fluxo sanguíneo sem sobrecarregar nosso coração. 

Procurem ajuda e orientação especializada para regular o peso, para manter uma rotina de atividades físicas, para saber usar hormônios e, mais do que tudo, para prevenir o engrossamento do sangue em situações com viagens prolongadas e cirurgias de grande porte. Por fim, bebam muita água, seja no verão ou inverno, pois a falta de uma ingesta regular de água pode favorecer o engrossamento do sangue. Sangue “grosso” pode matar!


Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel 

Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Professor Livre–Docente

CRM 105226

www.instagram.com/edmoagabriel/ (@edmoagabriel)

https://coracaomoderno.com.br/

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