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Filho de Whindersson Nunes: bebês prematuros podem apresentar problemas cardíacos

Filho de Whindersson Nunes: bebês prematuros podem apresentar problemas cardíacos
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel - Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Na rotina de um cardiologista, um dos maiores desafios é lidar com as doenças cardíacas congênitas, ou seja, aquelas doenças estruturais e funcionais que são diagnosticadas logo após o nascimento da criança. Em alguns casos, em virtude dos avanços tecnológicos nas últimas décadas, estas doenças são passíveis de diagnóstico ainda no período gravídico, no útero materno.

O desafio na abordagem destas patologias não se restringe a questão técnica, relativa ao diagnóstico e tratamento, mas também ao sofrimento inimaginável por parte dos pais e familiares da criança. Quando é necessário operar um bebê portador de uma cardiopatia congênita, costumo observar na reação facial dos pais, no momento crucial que precisamos separar a criança dos pais para conduzir o bebê até a sala de cirurgia. A sensação de emoção é muito intensa, muitas lágrimas e, como cirurgião cardiovascular, posso afirmar que o peso desta responsabilidade recai contundentemente sobre nossa consciência profissional.

Para revestir este cenário de mais apuros, encontra-se uma variável chamada prematuridade, fortemente vivenciada por Whindersson Nunes durante esta semana. Seu filho nasceu com prematuridade extrema, quando o nascimento ocorre antes de 28 semanas de gestação. Ser prematuro implica em ser incompleto na formação estrutural e funcional do corpo e de todos os seus órgãos, com acentuado risco de a criança não sobreviver.

Nossos órgãos seguem uma cronologia, um certo tempo que é minimamente necessário para conformação completa da sua estrutura. Quando este ciclo cronológico não é cumprido, órgãos como o coração podem apresentar, ao nascimento, uma considerável gama de defeitos, muitos deles potencialmente prejudiciais a sobrevivência.

Analisar as causas da prematuridade de um bebê implica em uma investigação muito complexa e geralmente multifatorial. Além das questões genéticas e hereditárias da mãe, sabe-se que todo evento externo que aconteça durante uma gravidez pode exercer algum tipo de influência em um nascimento prematuro. Tabagismo, etilismo, uso de drogas ilícitas, infecções e traumas (físicos e mentais) podem ser responsáveis por provocar o nascimento prematuro de uma criança.

Do ponto de vista cardiovascular, a prematuridade pode estar associada a alguns defeitos estruturais, que geram significativas repercussões e podem inviabilizar o desenvolvimento e a sobrevida da criança. No caso do filho de Whindersson Nunes, devido a prematuridade extrema, o risco destas alterações estruturais no coração é muito elevado e a necessidade de correção cirúrgica também é expressiva. No entanto, o dilema será conseguir estabilizar a criança do ponto vista clínico e nutricional, visto que uma cirurgia cardíaca num bebê prematuro extremo é passível de muitas complicações e insucesso.

Para melhor compreensão sobre os principais defeitos cardíacos relacionados a prematuridade, podemos destacar:

1) Presença de “buracos” dentro do coração

O coração de um ser humano é dividido em quatro cavidades, duas do lado direito e outras duas do lado esquerdo. Em condições normais, não há comunicação entre cavidades da direita e da esquerda. Outro detalhe é que o sangue que circula pelas cavidades do lado direito tem uma quantidade menor de oxigênio em relação ao sangue que circula pelas cavidades do lado esquerdo. Desta forma, em corações de crianças prematuras, podem estar presentes alguns “buracos” que promovem a mistura de sangue rico em oxigênio com sangue pobre em oxigênio, além de um desequilíbrio das pressões e volumes dentro do coração. Como consequência destes “buracos” dentro do coração, a criança poderá apresentar acúmulo de sangue nos pulmões, arritmias e sinais de insuficiência cardíaca.

2) Cavidades cardíacas muito pequenas

Dentre as quatro cavidades do coração, umas das mais importantes é conhecida como ventrículo esquerdo. Trata-se de um compartimento do coração, com massa muscular mais proeminente e pressões e volumes consideráveis. Esta cavidade está normalmente conectada a toda circulação sistêmica. Imagine então o que acontece e a gravidade de uma criança com um ventrículo esquerdo que não se desenvolve adequadamente, permanecendo num formato praticamente rudimentar. Nesta condição de desenvolvimento mínimo do ventrículo esquerdo, as taxas de sobrevida são extremamente baixas.

3) Artérias mal conectadas

As artérias que nutrem e irrigam o músculo cardíaco são conhecidas como artérias coronárias. Estas artérias estão sujeitas a tortuosidades, alterações de calibre e posicionamento inadequado nas crianças que nascem prematuramente. Como resultado disto, o músculo do coração pode receber um fluxo sanguíneo muito precário e estar sujeito a risco elevado de infarto. Isso mesmo - infarto do coração numa criança com meses de vida!

Outra anomalia muito importante seria uma espécie de inversão na posição das artérias.

Temos duas grandes artérias no coração e que “nascem” no coração - aorta e artéria pulmonar. O sangue que circula pela aorta normalmente é rico em oxigênio, diferentemente do sangue que circula pela artéria pulmonar, o qual tem baixa concentração de oxigênio. Aorta normalmente conecta-se ao lado esquerdo do coração e artéria pulmonar, ao lado direito do coração. Em crianças prematuras, pode ocorrer o inverso - aorta originando-se do lado direito do coração e artéria pulmonar, do lado esquerdo. Toda esta “confusão” pode causar muitos problemas e limitações ao desenvolvimento e sobrevida da criança.

A morte do filho de Whindersson Nunes retrata um sério problema enfrentado por muitas famílias - o nascimento de uma criança prematura. Quanto maior o grau de prematuridade, pior será para o desenvolvimento da criança e maior o risco de insucesso em termos de sobrevida. O coração pode apresentar muitos defeitos associados a prematuridade, muitos deles com importantes repercussões clínicas. Pensar em uma cirurgia cardíaca de grande porte para reparar os defeitos relacionados a prematuridade pode ser algo frequentemente muito agressivo. Melhor seria conseguir, por meio de medicamentos e suporte nutricional, que a criança sobreviva e se desenvolva para, mais tardiamente, ser submetida a um tratamento cirúrgico reparador. Em meio a toda esta discussão de natureza técnica, reside o sofrimento de pais e familiares, que vivenciam a angústia de ver um ser humano ainda muito pequeno necessitando de internações hospitalares, muitos medicamentos e passando por muitas dores e sensações. No ápice do sofrimento destes pais, a constatação de que um filho ou filha não sobreviveu e faleceu.

Assim foi com Whindersson e sua esposa, assim acontece com muitas pessoas no Brasil e no mundo. Somente quem passa por esta experiência terá condições de descrever como é este sofrimento.


Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel 

Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Professor Livre–Docente

CRM 105226

www.instagram.com/edmoagabriel/ (@edmoagabriel)

https://coracaomoderno.com.br/


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