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Pessoas com HIV apresentam maior risco cardiovascular

Pessoas com HIV apresentam maior risco cardiovascular
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel - Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Desde a descoberta dos primeiros casos de infecção pelo vírus conhecido como HIV, existem inúmeras especulações e diversas demonstrações de forte preconceito. Temos, ao longo da história, relatos de várias pessoas famosas que acabaram sucumbindo às complicações decorrentes desta infecção viral. No entanto, o progresso das pesquisas no que tange aos medicamentos tem permitido o controle efetivo da carga do vírus HIV no organismo humano, conferindo um status de vida normal e aumento significativo do tempo de vida. De certa forma, podemos afirmar que a infecção pelo HIV não causa mais aquele pânico de outrora.

A terapia medicamentosa para controle da atividade do vírus HIV, popularmente conhecida como “coquetel antiviral”, tem sido determinante em minimizar e prevenir o desenvolvimento da doença ou síndrome conhecida como AIDS. Alguns medicamentos deste “coquetel”, por um lado indispensáveis para o controle efetivo da replicação do vírus, podem, por outro lado, agravar algumas ocorrências cardiovasculares, aumentando o risco para um infarto do coração e derrame cerebral. Este cenário indubitavelmente tem se tornando um grande desafio na prática cardiológica.

Tudo começa com uma associação muito perigosa, tendo alguns fatores relacionados com os medicamentos antivirais e outros fatores relacionados ao estilo de vida. O fator crucial imputado aos medicamentos é seu efeito negativo no metabolismo das gorduras e açúcares, favorecendo o depósito de gorduras nos vasos sanguíneos, elevação das taxas de colesterol e triglicérides no sangue, obesidade e diabetes.

Não bastasse este efeito colateral, alguns hábitos de vida como sedentarismo, tabagismo, estresse excessivo e o uso de drogas ilícitas poderiam agravar a condição cardiovascular das pessoas portadoras do vírus HIV, especialmente em faixas etárias mais jovens.

Alguns estudos demonstram que as medicações usadas no “coquetel” podem também impactar na estrutura e função do músculo cardíaco. A hipertrofia do músculo cardíaco e o aumento de pressões nas artérias do pulmão parecem ser os principais problemas do uso crônico do “coquetel”, e, consequentemente, seriam importantes mecanismos para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca.

Nota-se, portanto, que o controle da infecção pelo HIV exige prontamente um suporte cardiológico, devido às complicações atribuídas ao uso dos medicamentos antivirais. Posso afirmar a vocês que, na rotina cardiológica, muitas pessoas portadoras desta infecção viral apresentam-se com níveis extremamente elevados de colesterol e triglicérides e a implementação de medidas para redução destas taxas no sangue deve ser contundente e judiciosa. Acrescento, também, que muitas pessoas portadoras do vírus HIV não respondem satisfatoriamente ao uso de doses convencionais dos medicamentos para controle das taxas de colesterol e triglicérides.

Como pontuado anteriormente, o cenário realmente é desafiador e exige muita paciência por parte do cardiologista e muita disciplina quanto aos hábitos alimentares e estilo de vida, por parte daquelas pessoas portadora do vírus.

Sendo muito prático e objetivo, o maior temor, durante o seguimento clínico das pessoas portadoras do vírus HIV, consiste no risco acentuado para um infarto do coração. Alguns estudos têm demonstrando um dado preocupante - na fase aguda e inicial após um infarto do coração, a probabilidade de ocorrer um novo infarto não é significativa; no entanto, cerca de 1 ano após a ocorrência de um infarto, existe um risco maior de reinfarto nas pessoas com infecção por HIV. Observa-se, também, risco maior de hospitalização por insuficiência cardíaca relacionada a esta recorrência de infarto.

Para piorar esta situação no período mais tardio, após o primeiro infarto do coração, os estudos mostram que parte considerável das pessoas infectadas com HIV continuam fumando e aderindo muito pouco ao tratamento correto para redução das taxas de colesterol e triglicérides no sangue.

Considerando todos estes dados e focando no prognóstico cardiovascular, pode-se inferir que muitas pessoas infectadas pelo HIV, serão submetidas a revascularização do miocárdio, num seguimento de 3 anos após o primeiro infarto do coração. Esta revascularização consiste na recuperação do fluxo sanguíneo em áreas do músculo cardíaco com baixa irrigação e poderia ser viabilizada por meio da angioplastia com implante de stent ou a cirurgia clássica de “pontes de safena e mamárias”.

A despeito da preocupação maior estar na saúde do coração, não podemos desconsiderar que existe risco de tromboses periféricas associadas ao uso de medicamentos anti-HIV.

Dessa forma, o manuseio clínico de uma pessoa infectada pelo HIV, ainda que não apresente sinais da doença conhecida como AIDS, deveria ser particularizado. Não é simplesmente mais um paciente com níveis elevados de colesterol e triglicérides; ao contrário, é uma pessoa com carga viral controlada às custas de um “coquetel” medicamentoso, o qual poderá acarretar inúmeras complicações cardiovasculares e aumentar o risco de infarto do coração, reinfarto, derrame cerebral e insuficiência cardíaca.  Muitos estudos ainda são necessários para melhorar os protocolos de prevenção e tratamento das complicações cardiovasculares atribuídas ao “coquetel” anti-HIV. Como muitas pessoas infectadas pelo HIV não respondem as doses convencionais de medicamentos para redução dos níveis de colesterol e triglicérides no sangue, o desafio continua.


Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel 

Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular

Professor Livre–Docente

CRM 105226

www.instagram.com/edmoagabriel/ (@edmoagabriel)

https://coracaomoderno.com.br/



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