Ao longo de nossa vida, em decorrência de diversos
problemas de saúde ou mesmo alguma situação mais pontual, necessitamos de uma
cirurgia de caráter reparador ou paliativo. E quando se trata de ser
operado(a), não basta simplesmente marcar a data do procedimento, comparecer ao
hospital, deitar-se numa maca e “apagar” até que a cirurgia seja concluída.
O período de suma importância para o sucesso de uma cirurgia consiste na preparação pré-operatória, envolvendo uma série de medidas a serem adotadas com muita atenção e disciplina. Quando a cirurgia é indicada, ou seja, quando o cirurgião comunica oficialmente que há necessidade de realizar o procedimento e a data do procedimento já começa a ser definida, inicia-se este período de preparação, visando chegar ao dia da cirurgia com as melhores condições clínicas possíveis e um estado geral pleno e digno de suportar as agressões naturais de um procedimento cirúrgico.
No entanto, e já pude testemunhar isto por ser cirurgião, existe uma condição extremamente essencial para o sucesso de uma cirurgia, muitas vezes sobrepondo as medidas mais objetivas e protocolares. Trata-se da condição psicológica da pessoa que necessita do procedimento. Em outras palavras, esta condição psicológica engloba uma espécie de energia que esta pessoa transmite a quem está mais próximo dela, incluindo o próprio cirurgião, no tocante a estar tranquila e otimista diante da cirurgia que terá de enfrentar.
Pode parecer algo muito simples e elementar, mas já pude testemunhar que, mesmo diante da gravidade de uma doença, uma pessoa extremamente convicta e consciente da necessidade de enfrentar a cirurgia, transmite uma energia positiva capaz de acalmar o ambiente e favorecer uma fluência adequada do procedimento. Lembro-me de uma senhora que operei há cerca de 7 anos, que devido à gravidade e histórico de várias operações, todos categorizavam o caso dela como um procedimento terrivelmente trabalhoso e complicado. Mas, na manhã da cirurgia, horas antes de iniciar o procedimento, estive com ela e me impressionei com o otimismo e a energia positiva que ela transmitia ao me dizer calmamente: “Doutor, vai correr tudo bem, estou muito tranquila”. E realmente o procedimento transcorreu com boa fluência e sem sobressaltos.
Assim, o primeiro cuidado essencial antes de uma cirurgia é avaliar o estado psicológico da pessoa e, se necessário, pedir mais apoio por parte dos familiares e de um especialista. Estando o lado psicológico a favor e apontando para um resultando promissor da cirurgia, tudo já flui mais suavemente. Esta etapa seria uma medida mais subjetiva e mais íntima. A partir daí, existe uma série de ações e preocupações relacionadas a fatores objetivos, que também devem ser abordados visando preparar o corpo para o dia da cirurgia. Estas medidas objetivas na verdade retratariam a condição orgânica global da pessoa, com todas as nuances necessárias para a melhor plenitude possível. Vamos então as medidas objetivas decisivas no período pré-operatório:
1) Revisão dos hábitos alimentares
Não seria uma boa conduta manter uma alimentação rica em gorduras, açúcares e bebidas alcoólicas. Ao contrário, a ideia seria priorizar os alimentos ricos em vitaminas e fibras, como as frutas e verduras, além de bebidas naturais, como água e sucos.
2) Revisão do estilo de vida
Nos meses que antecedem a cirurgia, seria uma grande oportunidade de refletir sobre o estilo de vida adotado e, sobretudo, sobre as imperfeições desta rotina. O nível de estresse, por exemplo, consiste em um aspecto que deveria ser priorizado tendo em vista o impacto negativo do mesmo no ato cirúrgico e nos resultados pós-operatórios. Níveis extremos do estresse podem desencadear alterações hormonais severas que, por sua vez, impactam negativamente na imunidade da pessoa e no seu equilíbrio orgânico.
3) Uso de medicamentos
Em geral, muitas pessoas utilizam, de forma rotineira, algum tipo de medicamento. E nem todo medicamento deveria ser utilizado até a véspera da cirurgia, visando evitar efeitos colaterais durante ou após o ato cirúrgico. Como exemplos de medicamentos que costumamos interromper alguns dias antes da cirurgia, estão aspirina e a metformina. No caso da aspirina, a justificativa para esta interrupção seria o risco maior de um eventual sangramento. No caso da metformina, que normalmente é usada para controle do diabetes, sua interrupção seria para evitar problemas renais no período logo após a cirurgia.
4) Atividade física
Praticar alguma modalidade esportiva pode ser muito útil no período pré-operatório, quando consideramos a melhora da capacidade cardiorrespiratória. No entanto, qualquer esforço exagerado, principalmente na semana do procedimento, pode ocasionar processos inflamatórios, dores e desgastes que poderão prejudicar o resultado da cirurgia.
5) Viagens prolongadas
A programação de viagens de lazer para relaxar corpo e mente pode ajudar bastante nesta questão do equilíbrio emocional prévio a uma cirurgia. Em geral, as viagens deveriam ser pouco cansativas, de duração mais curta, para que haja a menor sobrecarga física possível. Viagens muito prolongadas, que exigem muito tempo de deslocamentos e risco de trânsito mais intenso, deveriam ser evitadas.
6) Ambiente
Quando uma pessoa está se preparando para uma cirurgia, umas das mais preciosas necessidades diz respeito a sensação de paz. Fica realmente complicado obter um bom equilíbrio emocional se, na casa ou no trabalho, paira a tensão constante. Brigas, discussões, ofensas, tentativas de prejudicar as pessoas são situações muito desagradáreis, que podem mudar o resultado de uma cirurgia. O ser humano não é somente um corpo físico, o ser humano tem funções orgânicas intensamente dependentes dos processos emocionais que ele vivencia. Além de tudo isto, muito importante evitar barulho excessivo ou mesmo assistir a filmes ou programas que causem tensão e aflições.
Uma cirurgia não deixa de ser um ato de desequilíbrio. Obviamente um desequilíbrio controlado. Mas não se pode negar que quando se corta a pele, quando se modifica o fluxo sanguíneo de um órgão e quando se coloca uma pinça para ocluir um vaso sanguíneo, estamos gerando, ainda que temporariamente, certo grau de distorção de nossas funções. A preparação pré-operatória envolve desde um trabalho muito meticuloso de estabilidade emocional e confiança, como também modificar hábitos errôneos na vida e na alimentação.
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel
Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular
Professor Livre–Docente
CRM 105226
www.instagram.com/edmoagabriel/ (@edmoagabriel)
https://coracaomoderno.com.br/
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